Plantar é opcional. Colher é obrigatório.
Neiva Pavesi – Mogi das Cruzes
Li um texto de Mário de Andrade que me levou a comparar-me a ele. Claro que não na intelectualidade; sei avaliar a diferença enorme entre nós. Como ser humano ele refere-se a uma faixa de idade que pouco viveu e que vivo agora: “contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Tenho muito mais passado do que futuro. Sinto-me como aquele garoto que recebeu uma cesta de cerejas. As primeiras ele chupou displicentemente, mas percebendo que faltavam poucas, rói o caroço...”
Meu tempo é muito precioso para gastá-lo debatendo sobre a injustiça que, como praga, prolifera na humanidade. Imagina-se que as almas honestas e de boa vontade sejam respeitadas por pessoas e instituições das mais diversas. Nada disso. A honestidade perdeu a vez e a voz, nesta época em que, hipocritamente, tudo gira em torno da punição severa para os desvios mas, não se respeita nem se promove a honestidade. Basta analisarmos os juros espantosos das instituições financeiras, visando sempre o pior retorno: não se separa o joio do trigo. Nivelou-se o bom e o mau pagador, que sabe disso. Com sua mente criminosa e corrupta, não paga seus compromissos empurrando-os para a parte mínima da sociedade honesta; a banda boa, então, arca com o prejuízo que o bandido e sua quadrilha provocam! Assim, culturalmente, somos da mesma laia que os criminosos; ou melhor, há uma linha que nos separa: eles não pagam e nós pagamos o pato. Perante a lei, somos iguais a eles. Há uma inversão gritante dos valores éticos, morais e sociais: o que é certo passa a ser errado e o errado torna-se certo. Sentimos uma sensação de injustiça tão grande, um amargor que não nos deixa aproveitar as últimas cerejas que nos restam.
Não quero passar por isso! Quero aproveitar o tempo que me resta caminhando ao lado de gente humana, honesta; gente de verdade. Não me arrependo da minha honestidade porque observei os acontecimentos ao longo das décadas que vivi. Os ídolos de pés de barro estão caindo progressivamente: uns demoram mais, outros menos. Sempre é assim, e noto que há um aceleramento nos tempos mais recentes.
Não adianta pensar que “comigo não acontece”; “sou mais esperto que todos”; “nunca descobrirão minhas bandidagens e ainda beijam-me as mãos”. Chegará o dia de todos eles, inclusive dos falsos amigos que roubam os ingênuos honestos que confiam neles. Todo espertalhão receberá de volta a ação que praticou, custe o tempo que custar. Afinal, a Vida é o Reflexo, o Eco de todas nossas ações. Ela nos devolve o que fizermos ao nosso próximo: o Bem e o Mal, as lágrimas e os risos. Não há como escapar. É a lei de causa e efeito: o plantio é opcional, mas a colheita é obrigatória. Acredite.
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