A IMPORTÂNCIA DA
LEITURA
Thamirys D. Innocenti
“O
leitor [...] precisa aprender a ler melhor para melhor aprender o que lê”
(PERESSÉ, 2009, p.03). Ler melhor, essa é a questão chave, quando se tem em
mente a formação do professor.
Atualmente
evidenciamos o mal estar docente nas escolar públicas e privadas, sentindo a
falta de profissionalização pelos recém formados e desmotivação pela formação
contínua pelos inseridos na profissão.
Os professores da
educação básica estão desmotivados com as condições de trabalho que enfrentam
todos os dias, principalmente pela questão financeira, pois precisam enfrentar
contraturnos para complementarem a sua renda familiar. Além dessa questão,
podemos evidenciar as condições de trabalho que os docentes enfrentam, como por
exemplo, escolas sem infraestrutura adequada, classes superlotadas, entre
outras.
Conforme Franco (2008) a
classe profissional dos professores e pedagogos têm sofrido com o:
[...]
desprestígio social da
profissão, com a descaracterização da identidade coletiva da classe, com as
dificuldades inerentes ao próprio processo de ensino diante das sofisticadas
demandas sociais. Há que se entender que o educador, nesse caminhar,
encontra-se em profundas dissonâncias com a construção de seu papel social, de
sua identidade profissional, de sua identidade como pessoa. Fazê-lo refletir
sobre sua prática será por certo encaminhá-lo a analisar a
construção/desconstrução/reconstrução de sua identidade profissional.
(FRANCO,2008, p.121).
Evidenciamos a necessidade/importância das
leituras na formação contínua do pedagogo, tendo espaços/tempo propícios para o
seu desenvolvimento. Porém não basta a leitura ser trabalhada de forma
individual e/ou isoladamente. É preciso um trabalho pedagógico que
assegurem-na, pois há a necessidade de se
construir os conhecimentos advindos da interpretação pessoal e a ponte para
esta construção é o diálogo entre seus pares.
Baseio-me
em Franco (2008) quando considera como objeto da Pedagogia a reflexão, sendo um
transformador da práxis educativa. Sem a reflexão por parte do docente no
intuito de transformar, na reflexão por compreender, para conhecer e construir
possibilidades de mudança das práxis, a escola se torna fria e as ações por
parte dos docentes desconectadas e fragilizadas.
A leitura tem
como função proporcionar ao pedagogo a reflexão sobre a sua prática docente,
porém a transformação na ação somente ocorrerá a partir da compreensão dos
pressupostos teóricos que as organizam. A prática é considerada uma atividade
sócio-histórica e intencional, mediante isso, deve ser constantemente
redirecionada para que o docente atinja a responsabilidade social crítica que
se propôs a desempenhar.
Esse movimento de reapropriação da responsabilidade social
docente, do compromisso político da profissão, produzirá um processo crescente
de conscientização dos professores e dos gestores da prática pedagógica em
relação à responsabilidade social e política da prática exercida
cotidianamente. (FRANCO, 2008, p.126).
A reapropriação da responsabilidade social
docente deve por consequência fazer ressurgir a autonomia profissional. Autonomia esta que
confrontada com a prática diária não se acomoda ou se aflige diante das
dificuldades da prática, mas a questiona e visa à mudança. Mudar requer
um esforço pessoal, deixando a outrora as estratégias de sobrevivência,
buscando a mudança da sua própria perspectiva diante do mundo.
Reporto-me novamente a Franco (2008)
ao dizer sobre as dificuldades de mudanças na prática docente. A transformação
das práticas ocorrerá a partir do momento que os próprios práticos construírem
uma nova concepção dos próprios processos de ensinar e aprender, reconhecendo a
partir da reflexão seus próprios limites e suas deficiências.
Dentro das escolas brasileiras há
espaços e tempos instituídos para que haja a reflexão com vistas à mudança das
práticas docentes. Contudo a capacitação docente nos HTPC’s, conforme Franco
(2008), não ocorre como se espera. A formação continuada desses professores é
de responsabilidade do coordenador pedagógico da instituição, que tem como
princípio possibilitar fundamentos teóricos (leituras pedagógicas) para
promover a reflexão e auxiliar os docentes nos percalços da prática cotidiana.
No entanto, essa tarefa é realizada de uma forma pontual e sem muitos
fundamentos teóricos.
Franco (2008) identifica que os
coordenadores pedagógicos reconhecem que uma formação continuada para os
docentes deve ser planejada, gradual, contínua e persistente; eu amplio e
englobo a resistência, pelo fato dos mesmos reconhecerem que aturdidos por
tantos assuntos extras a comentar, por tantas orientações a se passar, afirmam
a falta de tempo para realizar a formação contínua.
A leitura contínua propicia ao
pedagogo reestruturar conceitos que aplica durante a prática docente. Franco
(2008) acredita que:
uma
decorrência também importante desta consideração do pedagógico como instância
de reflexão e de transformação das práticas escolares será a retomada pelos
professores, educadores, do caráter da responsabilidade social da prática. Toda
prática carrega uma intencionalidade, uma concepção de homem, de sociedade, de
fins, e estes precisam estar claros para os que exercem a prática
educativo-pedagógica, e também para os que são a ela submetidos, dentro de uma
postura ética, essencial ao ato educativo. (FRANCO, 2008, p.128).
A intencionalidade das ações dos pedagogos devem ser constantemente
redirecionadas pela equipe pedagógica, no intuito de atingir a responsabilidade
social a qual o profissional da educação se propôs a cumprir. O desconhecimento
do docente para o seu valor social faz com que os mesmos e o coletivo percam
suas capacidades autônomas (IMBERT,2003, p.73).
O autor Contreras (2002) salienta a perda da autonomia[1]
por parte do professor, dando a conotação de proletarização, afirmando que o educador pautado em um trabalho
docente de racionalização do ensino perde ao longo do tempo a sua concepção,
execução, controle da prática, reflexão e o estímulo, depreciando o trabalho
docente.
A leitura tem como intencionalidade subsidiar
o trabalho docente. Alerto, mais um vez, à necessidade de aportes teóricos que
auxiliem na prática e na práxis, pois ao contrário do que esperamos para uma
educação de qualidade, os pedagogos atualmente acabam por consequência, exercendo
um papel de consumidor de pacotes do processo educativo, produzidos por
especialistas. Dessa forma, o educador deixa de ser o ator principal, passando
a ser coadjuvante do seu próprio ato de ensinar.
Portanto, o docente tem o poder em
suas mãos: a leitura. O pedagogo deve usufruir das leituras em benefício
próprio, visando a melhoria do ensino e aprendizagem, tendo consciência do seu
papel social. Em contrapartida, as instituições de ensino deve assegurar esses
espaços para a formação contínua desses professores, visando o desenvolvimento
da autonomia pessoal, a criticidade e reflexão do coletivo.
Bibliografia
CONTRERAS, José. A
autonomia de professores. São Paulo: Cortez,2002.
FRANCO, Maria
Amélia Santoro. Coordenação Pedagógica: uma práxis em busca de sua identidade.
Revista Múltiplas Leituras, v.1,
n. 1, p. 117-131, jan. / jun. 2008.
IMBERT, Francis.
Para uma práxis pedagógica. Brasília: Plano Editora, 2003.
PERISSE, Gabriel.
Para uma
Definição de Leitura Educadora. Revista Notandum Libro, v. 12. 2009.
[1] Contreras
(2002) explicita que o conceito da palavra autonomia está ligado ao modelo de
professor, sendo um especialista técnico, como um status ou como um atributo, no qual o mesmo deve ser reflexivo, um
intelectual crítico e que resulte em um profissional com autonomia e
emancipação.
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